Em área de fronteira, Acre se torna rota na busca de atendimento de saúde: 'Regulação atravessada'

  • 12/11/2025
(Foto: Reprodução)
Bebê com cardiopatia grave é transferido do Acre para tratamento O caso de uma família que saiu de Pauini, no interior do Amazonas, para buscar atendimento médico em Rio Branco para a filha de sete meses no fim de outubro reacendeu a discussão sobre o fluxo de pacientes no sistema de saúde acreano que, apesar de pequeno, atende também pacientes de estados vizinhos e até de países fronteiriços como Bolívia e Peru. A pequena Isadora, filha de Raimunda Nonata Avelino e Isaías Sobrinho, diagnosticada com cardiopatia congênita grave, que faz com que o sangue não circule corretamente entre o corpo e os pulmões, precisava de cirurgia urgente. 📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp A família, então, se deslocou por mais de 267 km para pedir atendimento na capital acreana, já que a ida para Manaus ocorre somente por avião ou barco. Sem estrutura para o procedimento no Acre, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) conseguiu uma vaga em um centro especializado em Manaus, para onde a família foi transferida na madrugada do último dia 31 e segue até então. Ao g1, o pai da pequena Isadora, Isaías Sobrinho, atualizou que ela segue internada em Manaus, no aguardo da cirurgia. "Ela está bem, mas está tendo febre. A cirurgia dela está marcada pra quinta-feira [13], mas se a febre não passar, não vai ser feita", complementou. O caso mostra a complexidade dos fluxos de pacientes na Amazônia, onde as distâncias entre municípios e capitais são desafiadoras e, muitas vezes, o caminho mais rápido não é dentro do próprio estado. LEIA TAMBÉM: Bebê de 5 meses retirado vivo do próprio velório no Acre: o que se sabe e o que falta esclarecer Adolescentes de 14 a 18 anos passam a ter acesso gratuito ao DIU hormonal em Rio Branco; saiba como solicitar 'Escutar quem está ao lado': A importância de ir além da estatística na saúde mental Transferência de bebê para Manaus ocorreu no dia 31 de outubro, por volta das 2h da madrugada Alefson Domingos/Secom Atendimentos Dados solitados pelo g1 à Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) apontam que, de janeiro a outubro deste ano, foram atendidos quase 50 pacientes de cidades do Amazonas: 23 pacientes de Envira; 21 de Pauini; 2 de Eirunepé; e 2 de Boca do Acre. Deste último município, distante 220 km da capital acreana, estima-se que o número seja ainda maior, já que os pacientes costumam vir sem ser regulados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). "Estes são os casos que o Samu tem ciência. Porém, vem muito mais [pacientes] que ficam em casas de apoio fazendo tratamento nas unidades da capital", complementou Necila Fernandes, coordenadora estadual do Samu no Acre. Distância entre Rio Branco e Pauini, no Amazonas, chega a 270 km Reprodução/Google Earth Além dos quatro municípios citados acima, o Acre também faz fronteira com os municípios de Lábrea (ao oeste), Ipixuna e Guajará (ao leste, mais próximos de cidades como Cruzeiro do Sul). A profissional explicou ainda que não há como ter controle dos casos que vêm por meios próprios, uma vez que muitos destes são pacientes eletivos ou que fazem tratamentos contínuos. "A gente tem controle daqueles que vêm pela urgência. Então esses são regulados, ligam aqui no Samu ou muitas vezes nem ligam. Quando a gente menos espera, esses pacientes já estão no aeroporto e o próprio piloto, às vezes, é quem liga", frisou. Veja a distância entre as cidades de Rio Branco (AC), Pauini (AM) e Manaus (AM) | Imagens: Reprodução/Google Earth Mais perto de Rio Branco do que de Manaus A cidade de Pauini (AM), de onde veio os casos mais recentes, está a cerca de 270 km de Rio Branco por estrada, enquanto que para Manaus o trajeto só pode ser feito via aérea ou de barco, que pode durar até uma semana. Por isso, é comum que famílias procurem atendimento em unidades do Acre, especialmente em cidades como Cruzeiro do Sul, Sena Madureira e Rio Branco, onde há maior estrutura hospitalar. Situação semelhante ocorreu recentemente com uma gestante, também de Pauini, que também veio a Rio Branco para ter o filho. O bebê foi dado como natimorto após o parto, depois chorou no próprio velório. Este episódio de repercussão nacional levantou questionamentos sobre a logística de atendimento e o papel de cada estado nesses casos. "Não existe nenhum recurso [de transferência para o estado nessas ocasiões]. O que poderia existir seria um termo de cooperação entre os outros estados com o Acre, repassando os recursos de atendimento desses pacientes, mas isso não existe. Uma vez que o paciente vem para cá e procura o atendimento aqui no estado, já passa a ser responsabilidade do estado", destacou Necila. Recém-nascido dado como natimorto chora durante o próprio velório no Acre Fronteira tripla e sistema no limite Por estar em uma região de tríplice fronteira, o Acre também recebe pacientes da Bolívia e do Peru, especialmente em municípios como Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil, quando dão entrada pelo sistema de saúde local. O Samu também não consegue quantificar o número de estrangeiros inclusos neste recorte. Em um dos casos mais recentes, um adolescente boliviano foi atendido no Pronto-Socorro de Rio Branco após sofrer um acidente de trânsito em Epitaciolândia. Ele não resistiu e morreu 17 dias depois. Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) seja universal e gratuito, a estrutura não é a mesma em todos os estados. A Necila Fernandes, coordenadora do Samu, destacou que o Ministério da Saúde precisa criar mecanismos específicos para regiões de fronteira, considerando o fluxo de pacientes entre estados e países. "Às vezes esses pacientes são gravíssimos e eles, simplesmente, só colocam dentro de um avião, sem profissional de saúde, sem nada, e mandam para Rio Branco. Então é desse jeito: é uma regulação meio atravessada. Não existe, de fato, uma regulação responsável. Só colocam o paciente dentro de um avião e dizem assim: 'tá indo para Rio Branco'", ressaltou a coordenadora. Ao g1, a assessoria do órgão federal informou que é preciso que a Secretaria de Saúde local notifique o Ministério da Saúde sobre a situação de pacientes de outros estados para que, assim, sejam adotadas políticas de apoio ao sistema local. Enquanto isso, o Acre segue no papel de ponte humanitária para moradores do interior do Amazonas, de Rondônia e até de países vizinhos, em um sistema que depende da cooperação entre estados. VÍDEOS: g1

FONTE: https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2025/11/12/em-area-de-fronteira-acre-se-torna-rota-na-busca-de-atendimento-de-saude-regulacao-atravessada.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

No momento todos os nossos apresentadores estão offline, tente novamente mais tarde, obrigado!

Top 5

top1
1. Raridade

Anderson Freire

top2
2. Advogado Fiel

Bruna Karla

top3
3. Casa do pai

Aline Barros

top4
4. Acalma o meu coração

Anderson Freire

top5
5. Ressuscita-me

Aline Barros

Anunciantes